sábado, 12 de fevereiro de 2011

Conformismo

Admiro-me com a plasticidade do capitalismo. Possui tudo e todos, a Mão Invisível, além dos mercados, estende a sua influência a um novo domínio, o espiritual.

Fico estupidificado com a abundância de milagreiras e professores, mestres e curandeiros que se promovem nos classificados de qualquer jornal, prometendo milagres a preços cómodos (com possibilidade de pagamento em suaves prestações). As promoções chegaram aos milagres! Com tanto Messias plantado neste rectângulo, estranha-me que Judeia não seja uma localidade da Grande Lisboa.

Certas igrejas universais do Reino de Não-Sei-Quem, frequentadas por cegos de espírito e guiadas por cegos de dízimo, e impostores de países embrenhados numa África longínqua subvertem e insultam a essência do misticismo africano e é, para todos e especialmente para aqueles com raízes africanas, imperdoável.

Não há escrúpulos no uso das armas da alienação, mas isso é tão óbvio não é?! Cada vez mais sinto que observo e escrevo sobre o óbvio. É tão óbvio que a liberdade é uma fantasia, que os nossos gostos e crenças são impostos, é tão óbvio que o Coma Social devia ser tratado pela Psicologia Clínica.

Mas, para todos aqueles que pensam que ignorância deixa tudo e todos de ouvidos e boca tapados, tenho algo a reafirmar: o povo não é estúpido. Inculto, sim! Estúpido, não! Constatei isso mesmo ao ouvir um desses indivíduos da rua exclamar perante uma imagem de campanha às Presidenciais de 2011: “Abaixo a ralé e viva a maçonaria e a sociedade capitalista”.

Será que o Marx se enganou ao desprezar o lumpen como massa para engrossar revoluções? Que se foda, sou adolescente e revoluções são para outros as fazerem.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Na-tal - idade

Independentemente do que acontecesse ao longo do ano chegava a esta altura do mesmo e sentia-me bem, feliz, descansado. Nada mais me preocupava, enquanto criança o mundo esgotava-se nas horas que precediam o abrir das prendas e a sua descoberta.
Todo o mundo era aquela sala, aquelas luzes, aqueles embrulhos. E até este ano ainda que cada vez menos assim foi sendo. Este ano não houve clima de calma e de partilha. Este ano houveram discussões e guerras, nao houve esperança e nervosismo para descobrir o que estava dentro dos embrulhos. Este ano houve papeis rasgados de embrulhos desfeitos, assim como essas memórias de um Natal calmo, em família. Em família? Terá sido, se considerarmos como família pessoas que constantemente se perdem em querelas infantis e que partilham o mesmo código genético. Nunca achei que tudo fosse perfeito, mas nestes momentos parecia que havia algo que tornava esse dia diferente e único no ano.
Este ano acho que entrei Na-tal - idade, onde é so mais uma data, só mais um dia dos habituais 365 do calendário, apenas isso... nada mais que isso... Talvez o ano que vem me faça mudar de ideias... Talvez o ano que vem altere a minha opinião... mas até lá vou pensar que a minha família é mais uma das muitas que proliferam no mundo, quezilentas e sem qualquer vontade de estar reunida, presa a uma obrigação anual que nada mais é do que isso, uma obrigação.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Música

“Pretend you’re happy when you’re blue

It isn’t very hard to do”

Nat King Cole

Por vezes o segredo pode estar em, calar a vontade de falar, e somente…ouvir

Exposição


Como prometido, tendo dito que este espaço seria tambem um espaço de divulgação cultural, divulgo desde ja esta exposição na Casa da América Latina, bem perto do Museu Nacional de Arte Antiga. Exposição fotográfica sobre o Nicarágua, por Marcos Ferreira. Recomendo vivamente, ao jeito de Fotojornalismo.
P.S- Peço desde já também desculpa, pelo involuntário, afastamento do blog. O mesmo, afastamento, deveu-se a falta de internet. É curioso como o que deveria ser um problema resolvido no prazo máximo de 4 horas demorou 8 dias a ser resolvido, mas este assunto fica para outro post.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Trecho 2 de qualquer coisa

Exaustão, alucinação

e fuga à realidade.

Recuperação, reabilitação

e busca pela verdade.

Um capítulo da vida que se fecha sobre a solidão

e uma rolha na garrafa que matava

com um basta, um não.

Trecho 1 de qualquer coisa

Pergunto-me quem são os rostos vazios que passam lá fora, os animais que varrem as ruas da cidade no escuro, farejando de sonhos e medos. Pergunto-me se existem, se lhes pertenço.

Dizem que a racionalidade abusiva conduz à descrença em Deus, serei eu animal pela Razão? Ridícula figura que faço, falso filósofo nas minhas dúvidas existenciais. Questiono demais e penso de menos nas respostas. Estas últimas desinteressam-me, perguntas sem resposta são caos e eu preciso de abalar este tédio a que, tão carinhosamente, chamamos “acto de viver”.

E amor, será que tenho direito a algum?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Rótulos

Hoje pus-me a pensar e perguntei-me Mauro, porque é não estás num partido já que te interessas por política? E já agora, no auge da revolta juvenil, tão caracterizada pela ânsia na busca da justiça social, porque não és tu de esquerda?

É engraçado como sabemos quem somos, no que acreditamos mas raramente nos debruçamos sobre os porquês. O que é, é e parece uma perda de tempo questionar-mo-nos porque tem de ser dessa forma. Ainda bem que sou jovem e tenho tempo a perder.

Eis as conclusões a que cheguei: não sou a favor do suicídio como resposta a problemas, por isso, sou incapaz de cometer suicídio intelectual, o que seria inevitável numa vida partidária activa. Quanto à segunda questão apercebi-me que devo ser dos poucos adolescentes que, não estando embebido no romantismo que envolve este tipo de personalidades, não tem o Ernesto Guevara como role model. Tenho esse hábito estranho de não admirar quem participa em execuções, singularidades de um rapaz. Não envergo, nem nunca envergarei, uma t-shirt do Che porque, juntando o facto de não ter ilusões quanto ao dito, respeito a sua memória ao não participar em acções que o tornam um símbolo capitalista. Até depois da morte a vida dá voltas, não é meu caro?

A luta de classes acabou, chorem e insultem, mas até os marxistas sabem que isto é verdade (se forem marxistas que lêem Marx, vê-se de tudo um pouco nestas juventudes comunistas espalhadas por este mundo). Assim sendo, o processo histórico fica comprometido e a sua inevitabilidade posta em causa; Marx tinha razão em muita coisa mas a História negou-lhe o acrescento à teoria evolucionista.

Com este raciocínio cortei as hipóteses de ser comunista, então e a nova esquerda, pensei eu? A nova esquerda é algo que aparenta estar à esquerda, aparenta. No plano económico e financeiro (o essencial para criar políticas de esquerda reais) nada muda relativamente aos partidos situados no centro mais à direita; a classe dominante corrompe as estruturas partidárias e eu não gosto de coisas pela metade. Não posso apoiar semi-esquerdas nem quero ser governado por semi-primeiros-ministros.

Cheguei a um pé em que, tanto o centro esquerda como o centro direita não me podem satisfazer, não são uma alternativa concreta, nem o comunismo na sua essência faz sentido, na actualidade, na minha rica cabecinha. O que me resta? A direita musculada, policial? Acho que fascismo seria difícil de digerir e traria maus fígados a um rapaz mestiço…vida de jovem é complexa. Ámen à alienação.